Mercado e Cia

Leite: Cepea vê preços estáveis em patamares altos nos próximos meses

De acordo com pesquisadora, o período de cotações em baixa levou ao desinvestimento na atividade, o que impede uma reação forte da produção neste momento

O preço pago ao produtor do leite na Média Brasil, calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), subiu 29,2% no acumulado de janeiro a julho de 2020. O valor do litro chegou perto de R$ 1,76, o segundo mais alto de toda a série histórica da entidade. Para agosto deste ano, pesquisadores estimam alta de 10% em relação a julho, beirando R$ 1,95 por litro e ultrapassando com folga o recorde histórico registrado em agosto de 2016, quando atingiu R$ 1,78.

A pesquisadora do Cepea Natália Grigol lembra que a cadeia do leite no Brasil volúvel aos acontecimentos do mercado interno. Assim, no início da pandemia da Covid-19, as incertezas econômicas oriundas do isolamento social e da parada dos serviços de alimentação mexeram com a organização da cadeia do setor. De acordo com ela, a indústria diminuiu bastante as compras e causou desvalorização dos preços pagos ao produtor. Além disso, as condições climáticas nesta entressafra não favoreceram a produção.

Sem grandes volumes de leite sendo produzidos e com a manutenção do consumo, em virtude do auxílio emergencial do governo federal, os estoques ficaram pequenos. “Agora, as indústrias estão disputando a matéria-prima e, consequentemente, remunerando melhor o produtor”, diz.

Outro sinal de que os preços pagos ao pecuarista devem melhorar é o mercado spot — leite comercializado entre indústrias — que vêm subindo a cada quinzena e já registrou boa valorização no decorrer de agosto, segundo Natália.

Tendência

A pesquisa afirma preços em patamares elevados estimulam o produtor, porém, o período de cotações baixas gerou diminuição do investimento. Somado aos valores altos dos grãos e às condições climáticas adversas, isso traz dificuldade de resposta rápida por parte do pecuarista.

A projeção da pesquisadora é de que, nos próximos meses, o preço pago ao produtor possa se manter estável nesses patamares altos, ainda que o pico sazonal seja em agosto. De acordo ela, as projeções dependem do ritmo do consumo e da capacidade da indústria de repassar os preços aos consumidores.